sábado, 8 de novembro de 2014

Um pouco de Oss


No processo eu sabia que seria um leão e que representaria a história escrita por L. Frank Baum: O Mágico de Oz.

Um dia, Doroti, Espantalho e o Homem de Lata me chamaram para jogar amarelinha. Ops! Não tem como iniciar o jogo da amarelinha jogando a pedra em um número que não seja o “um”, o início, a escuridão (Ai, que medo!). Com a pedra na casa numero “um” o primeiro pulo foi conhecer a minha amarelinha, o meu caminho de quadrados amarelos. O Leão covarde apareceu (Miau!). Em meio a meditações e improvisações, a amarelinha foi se tornando NOSSA e, então, a casa número “dois” e número “três” foram alcançadas. Um início de luz surgiu em meio a quadrados, retângulos e triângulos. Nossa casa foi sendo construída, atingimos a casa número “quatro”, porém numa boa amarelinha não podemos esquecer das pedras do caminho. Tropeçamos numa pedra, que estivera sempre por lá (ou aqui?), foi no furacão da casa número “cinco”, no meio do caminho, que decidimos... Precisamos recomeçar! Durante esse recomeço o leão virou um tigre. Foi-se a casa número “seis”. O tigre e seus amigos foram percorrendo as casas número “sete” (inundada de desafios) e “oito” (cheia de descobertas). Durante o caminho de quadrados amarelos o tigre ficou confiante, deixou seu medo de lado, tudo isso por ser um tigre com amigos de verdade. Na casa “nove” diante do poderoso Mágico de Oss olhei para traz e puder perceber que não fui destinada a apenas representar o leão da história O Mágico de Oz, fui destinada a representar o tigre, o espantalho, o homem de lata, a Doroti, a Juliana em um mundo chamado NÓS. Na casa número “dez” vislumbrei o infinito, o processo que não se acaba, os quadrados que flutuam o caminho que está se construindo. Agradeço ao grande Mágico de Oss com um forte e sincero abraço. 

AMAR É LINHA

OSS!


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Doroti ou Kamila?


A menina é avoada, sempre atrapalhada e desorganizada. Não consegue acordar, e mau para pra respirar. Corre pra lá e pra cá, mas nem sempre sabe onde está.     Acha que o mundo vai acabar só porque não aprendeu dançar.   Às vezes é cheia de insegurança, vamos menina, não perca a confiança! Tem medo de não ser... o que? Nem eu sei...   Vive em uma bolha gigante flutuando pelo mundo adiante. É desatenta e desconcentrada, acho que ela precisa de umas boas palmadas.  É tão esquecida que às vezes parece até  a bela adormecida.  Ai ai ai dona moça, se não acordar vai engolir uma mosca.  Ui nem pensar! Vou logo mudar! As vezes ela chama atenção pra esconder sua solidão. É também carente mas esta sempre contente.Ela está na idade do amor, mas ainda não desabrochou! Sim, já sabe de todos os seus defeitos!.Agora vamos dar um jeito. Primeiro passo silenciar!  Passo a passo vamos chegar lá!

Construção de um personagem... Como ir além da Kamila? Quanto nervoso, quanta impaciência, uma tensão desnecessária.

Ansiedade, esquecimento, medos. Tantas coisas que passam aqui dentro   e que tentamos esconder...  é claro que tentamos.

Calma, essa é a kamila, pelo menos uma parte dela, a parte que temos que superar e melhorar.  Agora vamos deixar essa kamila de lado e pensar na personagem.

No seu oficio e na construção.

Quem é Doroti?

Doroti é uma menina órfã, criada pelos  seus avós, que trabalham muito para manter as contas da fazenda em dia.   E sem perceber acabam deixando Doroti de lado.  Doroti é uma menina maravilhosa, mas como todas as meninas pequeninas e sem proteção, se perde em seu caminho,  deixa  aquela pequena solidão dominar o seu  coração, ainda não sabe lidar com seus sentimentos. 

De tanta solidão, não para de chamar atenção.  Acha que é a dona do mundo, quer mandar em todo mundo, domina as brincadeiras e é cruel com seus amigos. 

As fragilidades que encontra neles, são suas também, tenta esconde-las de tudo e de todos. Então ataca os pobres amigos que não tem nada haver com isso. Não deixa escorrer uma lagrima sequer, acha que sabe de tudo e sempre se mostra forte e durona, mas é só uma menina que precisa de afeto. 

Ela só quer alguém que a proteja, que a ame e que a ajude a encontrar as respostas de tantas duvidas, é uma menina perguntadeira, que vai descobrir que está tudo dentro dela, em um  cantinho cheinho de amor que vai colorir a sua vida. 

Mas para isso terá que iniciar uma jornada, um caminho espiritual, um caminho de aprendizado, um caminho de lapidação ou um caminho de auto-conhecimento.

Podemos chamar do que quisermos, ou apenas o caminho da vida...  Que Doroti aceitou consciente ou inconscientemente seguir esse caminho, enxergar suas fragilidades, aceita-las,  para  então poder mudar. 

Nas pequenas brincadeiras com os amigos Doroti vai apresentando as suas fragilidades.

Doroti não gosta de brincar de amarelinha,  por que será?

Amarelinha é uma brincadeira de muitos amigos, mas quando entramos no jogo, entramos sós. O percurso para chegar até o céu é  individual, ninguém pode tirar as pedras do seu caminho, só você.

Deve enfrentar os obstáculos sozinho, para chegar ao fim, ao fim do caminho da amarelinha.

Ela gosta de brincar de pega-pega, mas não gosta de  pegar, sempre escolhe  fugir, fugir e fugir...

E quando brinca de esconde- esconde, acha que ela vai contar?  Nem pensar! Sempre escolhe se esconder.  Se esconde e se esconde....

No pega-pega, ri daquele que não consegue pegar, (é fácil sempre fugir), no esconde-esconde, briga com quem está com medo (é fácil apenas se esconder de tudo e não enfrentar ).   E se alguém ousar  contrariá-la, fica tão brava que é capaz de surtar. (ninguém pode descobrir suas fragilidades).

É claro que  Doriti, vai se cansar.  Ela tem construído suas relações a partir das suas  dores e fraquezas...  A vida de Doroti foi se tornando cinza e sem graça... O problema está sempre no outro e se tornou uma  vitima das suas próprias atitudes. 

Foi então que um tornado chegou,  e foi o despertar da pequena Doroti.

ShiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiUUUUU! Um tornado!  

Que vem pedindo silêncio!

Shiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

Um pedido de silêncio a Doroti! Tudo está ali, no centro do tornado, sua casa, sua família, seus amigos sua vida!

Casa?

Porque voltaria para casa? Não é lá que é tudo ruim.  Os amigos são chatos, lentos,burros e  as brincadeiras não tem graça não é? Os  avós nem se fala, só fazem contas, contas e mais contas.  Todos os dias parecem sem sol pra você.  Sua vida não tem sentido Doroti. Fique onde está. Não é bem melhor?  Aposto que sim... Viver só.  É o que quer não é?  Afinal você não precisa de afeto. Não precisa de amigos e não precisa de carinho.  Viverá melhor sozinha. Longe de quem te incomoda.

Doroti....

 Esse furacão deixou a minha vida de cabeça pra baixo, só assim pude perceber  tudo que estava tão perto de mim quando vivia na casa dos meus  avós e nunca enxerguei. Eu precisava mesmo de uma luz, eu via tudo cinza sem cor e sem graça.   E na verdade quem estava sem graça era eu.  Machuquei os meus amigos, me achei melhor que eles, só reclamava dos meus avós que sempre cuidaram de mim. Os dias eram sem sol porque eu os via assim.
Acho que esse furacão mudou a minha vida. Quero voltar pra casa e  fazer tudo melhor. Cuidar dos meus amigos, dar atenção para os meus  avós.  E brincar de amarelinha.
Nesse caminho que segui  descobri a amizade. Somos amigos, amigos indo pra oss. Amigos que se unem para ajudar um ao outro. Descobri em mim sentimentos que faltavam em meus amigos para continuarmos o caminho e assim chegamos até o fim... O fim do caminho da amarelinha.
E agora? 
Chegamos em Oss.  Encontrei o grande mágico de Oss.  Achei que ele me levaria para casa em um passe de mágica, mas ele me fez perceber que na verdade ele sou eu, meus amigos estão em mim. E que no caminho encontrei  as soluções que já estavam  aqui. Plin, plin,plin, as fichas caíram... era isso mesmo. Quero mais que tudo voltar para casa, agora tudo faz sentido.  Minha casa, minha vida, os meus amigos.
Coisas  em mim tive que reconhecer pra poder me resolver.

Obrigada  camiho da amerelinha.   AMAR É LINHA, a linha que estará sempre traçando o meu caminho. 

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Pobre Doroti, não sabe o que a espera por ela...

Oss, Oss, Oss.
Você tem um telefone que eu possa te ligar? Um e-mail que eu possa mandar?
Que homem mais difícil de se encontrar.
Se você é o grande poderoso deveria  se mostrar forte e glamoroso.
Não deveria se esconder se os problemas de todos pode resolver.
Esse furacão só me trouxe confusão.
Já não gosto de pular e um caminho de amarelinhas vou ter que passar.

Isso só pode ser brincadeira! 

O QUADRADO


Tudo começou com um quadrado sem graça. Sem cor e brincadeiras. Sem até poesia.  Seus lados eram iguais, sem nenhuma exploração. Pobre quadrado, este era o seu  fim.
O quadrado chorava em todos os cantos que se aproximava, era triste e sozinho. Coitadinho, vivia em seu quadradinho.
Um dia de tanto chorar,o quadrado pois se a quebrar.  Seu lados caíram e pensou que agora tudo estava perdido.
Mas de um lado um pequeno quadrado partido se levantou, que logo o assustou!
 -Um triangulo? O que faz em mim? Disse o quadradinho.
 O outro lado se levantou meio  atontalhado   e um losango se formou.  
-Um losango? Como entrou aqui?  Perguntou o quadradinho assustado.
Quanto mais ele ia se desmontando mais formas iriam se recriando.

-Tudo isso dentro de mim? pareço  até que não tenho mais fim, pentágono trapézio e hexágono!  Vocês também fazem parte de mim?  Disse o quadradinho com uma alegria sem fim , que todos os dias passou a se recriar e um mundo novo pode explorar. 

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A Estrada de sonhos esquecidos com caramelos (ou estrada de tijolos amarelos)...

- Tijolos amarelos? Mas tijolos não são laranjados? Por que ficaram assim?
- Estes tijolos são amarelos porque não são feitos de barro, como os laranjados.
- E de que são feitos?
- De sonhos e caramelos!
- Caramelos? Então deve ser por isso que meus sapatos ficaram grudados e eu não consigo tirá-los dali... Mas... Como estes sonhos viraram tijolos?
- Não sabemos bem, mas acho que alguém os assou no passado... Digo, deixou no passado, e por isso viraram pedra, tudo tem que ir pra algum lugar, não é mesmo? Os rios vão pro mar, o Sol vai para o oeste, e os sonhos descartados vem pra cá.
- Nossa, mas se essa estrada é feita de sonhos do mundo todo que viraram pedra ela deve ser gigantesca!
- E é, tanto que poucos sabem onde ela vai dar, acabam se entretendo com as plantações ao redor da estrada e param por lá, outros não tem motivos fortes para enfrentá-la e acabam enferrujando e desistindo, e ainda outros sequer tem coragem de entrar nela.
- Eu acho que não tenho curiosidade nem desejo nem coragem de começar essa viagem...
- Então encontre outro impulso, se quiser voltar pra casa precisa enfrentar a estrada. Se não, seu sonho de voltar vai virar pedra e aumentá-la.
- Então eu vou por piedade do próximo coitado que se perder por aqui, pra não precisar andar mais um tijolo.
- Isso mesmo, menina!
- E se eu encontrar alguém que desistiu e fez a estrada aumentar vou convencê-lo a ir comigo, aí vamos diminuindo a estrada até ela virar uma amarelinha pra gente brincar! Adeus!
- Adeus! E não se esqueça de nós...

O que é OZ?

Queremos apertar alguns nós.
Porque não tem graça brincar à sós e a vida só vale a pena se todos nós brincamos juntos à uma só voz!
Neste mundo mágico e estranho chamado nós ou OZ...

Oh! Oh! Oss...

Óh! Óh!

Acabou o dia, não se ouve ninguém cantando canções, pulando corda, atirando lama no quintal. Ó! Não se houve os pássaros de manhã, não se vê a luz do sol. Se vê pelas ruas uma gente que nem se vê. Gente que nem se nota, mas sabe dar nota ao olhar do outro. Ó! A tarde cinza, desenfreada, traz consigo a tinta descascada da parede. Ó! Onde está a cor? A alegria que habita em nÓs? Tantos nós espalhados por aí, e nenhum sorriso pra desatar.

Se eu aceitar o meu caminho? Se eu dar um passo à frente? Se eu tropeçar? Ó! Aqui não tem mais espaço pra nÓS. Ninguém mais tem vOZ. 

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Cara ou Coroa?

Horas, dias, semana, mês, ano. Tempo.
Não perca tempo, não perca dinheiro.
Cada hora vale 20 reais, cada dia é mais um dia. Sobrevivi.
A semana passou, bem vindo final de semana!
Porque agora eu quero ser feliz, nem que seja por um dia.
O mês vale um salario mínimo e mais nada.
O que eu comi no almoço de ontem? Eu almocei ontem?
O tempo consumiu minhas memorias. O dinheiro desvirtuou meus sonhos.
Estou precisando de uma dose de... Shopping!
Em quantos vezes dividimos a crédito o ano?
A terra se transformou na bola mais verde de todos os tempos. Podemos chama-la de Mariane, Benjamin Franklin e Natsume Sõseki.

Cara ou coroa? 
Não sei.
Não há tempo para pensar. Cara ou coroa?
Cara!...não, Coroa!
E aí o que você escolhe?

Eu escolho... Eu escolho, não jogar uma moeda.

Estrada de Tijolos Amarelos

Agora com os pés bem fixados no chão,
Brilhando num tom rubi
Doroti segue o caminho.
Sozinha, pisa devagar tijolo por tijolo.
Não pula nenhum, quer sentir todos passar pela sola de seu sapato.
Olhos fixos na frente e ouvidos bem atentos,
Durante o caminho conhece o NÓS dentro de EU,
Leva-os consigo.
O caminho é longo, muito longo.
NÓS toma conta do EU.
Todos em um

Somos todos um só.

O mundo Cinza

Oh, Eu olho pra cá, frio!
Oh, Eu olho pra lá, escuro!
Oh, eu olho pra frente, cinza!
Oh, Oh, Oh...tudo é tão pesado.
As nuvens carregadas deixam tudo nebuloso,
Não consigo ver mais nada, nem meus sonhos.
Eu preciso sair daqui, eu quero sair daqui. Alguém me ajuda? Por favor?
(silencio) Oh! (silencio) Eu vou em busca do meu futuro, da minha felicidade.
Não quero mais esse mundo de neblina, cinza!
Um... oh! Eu olho para mim. (ventania)
Dois... eu olho para dentro de mim. (tempestade)
Três... fecho os olhos. (tornado)
OooooooH! OSS está em NÓS. Oh! Oh!

Oh, eu olho pra trás, arco íris!

O caminho de OZ

Eu tenho medo, medo de altura, medo do desconhecido, medo de errar, medo de ficar de cabeça para baixo. Eu tenho medo de me abrir, medo de me fechar. Eu tenho muitos medosssss. Ainda assim, Eu tenho coragem. Eu tenho ferrugem, sinto ódio, sinto raiva, sinto inveja, Sinto saudades, sinto amor, sinto compaixão, Eu tenho sentimentossss.  Eu tenho coração. Eu sou burra, sou preguiçosa, minha cabeça gira, não para um segundo, aí eu penso, reflito, eu tenho curiosidade, eu tenho vontade. Eu tenho inteligênciassss. Eu tenho um cérebro. Eu caminho com o que eu tenho, com quem eu sou, a procura de OSS, para desatar os nós dentro de mim. Eu lanço a pedra (coragem), espero ver onde ela vai parar (cérebro), pulo até alcança-la (coragem), quando chego ao destino me emociono (coração).

quarta-feira, 18 de junho de 2014

A estrada de tijolos amarelos


Estou a sós
Só me resta chegar em oss!
Qual estrada devo seguir? Lilás,azul amarela ou marfim?
A estrada onde nasce os sóis!
É essa que vou descobrir!
Ela indica o caminho! O caminho para nós!
Dizem que dentro de nós mora oss!
Essa estrada é tão reluzente que deixa o sol sempre poente.
Aqui não posso temer, pois meus novos amigos devo proteger.
Tenho que estar muito esperta pra no caminho não me perder
É só seguir os tijolos, amarelo vivos e luminosos.
Lá esta ela! parece até que não tem fim!
Essa estrada tem fim?
E se eu caminhar, caminhar ,caminhar e nada encontrar?

Ai cérebro! Pare de me fazer tantas perguntas! Preciso apenas de coragem pra seguir nessa viagem.

O tornado!


Eu to cansada! Cansada de você! Cansada de você! Cansada de você!
Não quero mais brincar! Nem pular corda nem me pendurar na cerca e muito menos jogar amarelinha!
Estou indo embora!
Adeus!
Eu estou indo embora e dizendo Adeus!
Eu estou indo embora,dizendo Adeus! E nunca mais voltarei!
Eu estou indo embora,dizendo Adeus! E nunca mais voltarei mesmo!
Ei!! Que tipo de amigos são vocês?  Tia? Tio?
Cadê vocês?
Por que está tão escuro? Que vento é esse?
Minha casaaaa? Tio! Tia! O que fazem ai em cima, por que estão girando?  Totó! Voltem aquiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Siiiiiiii! ShiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiUUUUU!
Um tornado! Que vem pedindo silencio!
Shiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Um pedido de silêncio a Doroti! Tudo está ali, no centro do tornado, sua casa, sua família e seus amigos. 

Abra os olhos menina! Precisa olhar sua vida! 

Cinza

Óh! Óh!
Acabou o dia, não se ouve ninguém cantando canções, pulando corda, atirando lama no quintal.
Ó!
Não se houve os pássaros de manhã, não se vê a luz do sol. Se vê pelas ruas uma gente que nem se vê. Gente que nem se nota, mas sabe dar nota ao olhar do outro.
Ó!
A tarde cinza, desenfreada, traz consigo a tinta descascada da parede.
Ó! Onde está a cor?
A alegria que habita em nÓs?
Tantos nós espalhados por aí, e nenhum sorriso pra desatar...
...Se eu aceitar o meu caminho? Se eu dar um passo à frente? Se eu tropeçar?

Ó! Aqui não tem mais espaço pra nós.


Ninguém mais tem vOZ.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Goodbye Yellow Brick Road


When are you going to come down?
When are you going to land?
I should have stayed on the farm,
I should have listened to my old man.
You know you can't hold me forever,
I didn't sign up with you.
I'm not a present for your friends to open,
This boy's too young to be singing the blues.
So goodbye yellow brick road,
Where the dogs of society howl.
You can't plant me in your penthouse,
I'm going back to my plough.
Back to the howling old owl in the woods,
Hunting the horny back toad.
Oh I've finally decided my future lies
Beyond the yellow brick road
What do you think you'll do then?
I bet that'll shoot down your plane.
It'll take you a couple of vodka and tonics
To set you on your feet again
Maybe you'll get a replacement,
There's plenty like me to be found.
Mongrels, who ain't got a penny,
Sniffing for tid-bits like you on the ground

O quê quer com Oz menina?

O quê quer com Oz menina?
- Acho que respostas... É respostas!
- Respostas?
-É para as perguntas.
-Perguntas?
- É sobre o caminho.
-Caminho?
-Sim, da vida...
 -Qual vida?  
-A minha! Quero que ele me ajude a voltar para a casa.
- Casa? Onde é sua casa?
-Lá!
-Lá?  Hummm...  Entendo.  Você se perdeu ou anda por ai sem saber para ode ir?
-Não! Foi o tornado que passou por mim...ele foi mais forte do que eu e me deixou aqui, por isso me perdi. 
-Não deveria andar perto de tornados!
- Acontece que ele não manda uma correspondência quando está pra chegar.
-Humm... Mas o que quer com Oz mesmo?  
-Já disse, as respostas...para as perguntas...sobre o caminho...para que eu encontre a minha vida de volta!
-Sua vida? Não era sua casa que queria encontrar?
-Ai chega! Você está me confundindo.  
-Sabe que eu acho você uma menina muito confusa mesmo. E por que acha que Oz vai dar tudo o que você quer?
-Não acho tenho certeza!
-As certezas as vezes levam a gente por caminhos obscuros.  Mas quem é você mesmo?
- A kamila.
-Kamila? Achei que fosse Dorothy.  
-Quer dizer... sou Dorothy.
-Alguém que não sabe quem é,  para mim é realmente alguém muito confuso.
-Eu sei quem sou!  Só estou em um lugar diferente e estranho por isso  me confundo.
-Deveria saber mais sobre você, para não se confundir em lugares estranhos.
-Acho que estranho é você! Não deveria ficar aqui respondendo as suas perguntas, afinal quem é você?

- Ei! Para onde foi? Volte aqui! Quem é você? Oz? 

terça-feira, 10 de junho de 2014

O magico de Oz,nós,voz,sós....


Inicio do processo- “O mágico de Oz”.

Começamos o nosso  caminho de tijolos amarelos.  Seguindo no jogo de amarelinha  que começa na fazenda  e termina em OZ.  Um caminho em busca da  liberdade, descobertas  e identidade de Dorothy.
Hoje iniciamos o processo criativo rodeado por brincadeiras.
Jogamos amarelinha e escravos de “OZ”,  com muitas cantigas de roda.
Utilizamos alguma musicas  orientais e estamos nessa busca sonora.

Criamos um caminho inicial, através do jogo de amarelinha tentamos iniciar um roteiro onde cada quadrado representava uma parte da história, um conflito, encontro ou solução.
Com improvisos criamos uma pequena cena contando a história do Mágico de Oz.

OZ,VOS,NÓS

terça-feira, 27 de maio de 2014

Procure sua Fera!

O processo de A Bela e a Fera, está numa etapa de desatar nós (de nó) que encontramos na dramaturgia, até porque é um grande desafio trazer a magia do Carnaval para essa história que encantou muitas gerações no mundo todo!
E no meio disso tudo, parei em vários momentos pra tentar responder perguntas relacionadas ao meu personagem, a Fera: Quem é essa fera? Ele é uma fera de que tipo? Porquê despeja sua vida numa simples rosa?

Através de um dos exercícios de investigação, descobri que temos dentro de nós, muitos rugidos enjaulados, ou seja, dentro de cada um, habita uma fera. Porém, a parte mais difícil é encontrá-la e tirá-la de sua jaula.


Respeitável público, a Fera! Seja uma besta, um homem solitário, aprisionado na sua própria melancolia, ele irá surgir em breve, e já prevejo novos questionamentos: Ele aprenderá a amar? Será que a alegria do samba restituirá dentro de si um desejo pela vida?


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A Bela e a fera ou A ferida grande demais (Clarice Lispector)

Bem, então saiu do salão de beleza pelo elevador do Copacabana Palace Hotel. O chofer não estava lá. Olhou o relógio: eram quatro horas da tarde. E de repente lembrou-se: tinha dito a "seu" José para vir buscá-la às cinco, não calculando que não faria as unhas dos pés e das mãos, só a massagem. Que devia fazer? Tomar um táxi? Mas tinha consigo uma nota de quinhentos cruzeiros e o homem do táxi não teria troco. Trouxera dinheiro porque o marido lhe dissera que nunca se deve andar sem nenhum dinheiro. Ocorreu-lhe voltar ao salão de beleza e pedir dinheiro. Mas - mas era uma tarde de maio e o ar fresco era uma flor aberta com o seu perfume. Assim achou que era maravilhoso e inusitado ficar de pé na rua - ao vento que mexia com os seus cabelos. Não se lembrava quando fora a última vez que estava sozinha consigo mesma. Talvez nunca. Sempre era ela - com outros, e nesses outros ela se refletia e os outros refletiam-se nela. Nada era – era puro, pensou sem se entender. Quando se viu no espelho – a pele trigueira pelos banhos de sol faziam ressaltar as flores douradas perto do rosto nos cabelos negros – conteve-se para não exclamar um “ah!” – pois ela era cinqüenta milhões de unidades de gente linda. Nunca houve – em todo o passado do mundo – alguém que fosse como ela. E, depois, em três trilhões de trilhões de ano – não haveria uma moça exatamente como ela.
“Eu sou uma chama acesa! E rebrilho e rebrilho toda essa escuridão!”
Este momento era único – e ela teria durante a vida milhares de momentos únicos. Até suou frio na testa, por tanto lhe ser dado e por ela avidamente tomado.
“A beleza pode levar à espécie de loucura que é a paixão.” Pensou: “estou casada, tenho três filhos, estou segura.”
Ela tinha um nome a preservar: era Carla de Sousa e Santos. Eram importantes o “de” e o “e”: marcavam classe e quatrocentos anos de carioca. Vivia nas manadas de mulheres e homens que, sim, que simplesmente “podiam”. Podiam o quê? Ora, simplesmente podiam. E ainda por cima, viscosos pois que o “podia” deles era bem oleado nas máquinas que corriam sem barulho de metal ferrugento. Ela, que era uma potência. Uma geração de energia elétrica. Ela, que para descansar usava os vinhedos do seu sítio. Possuía tradições podres mas de pé. E como não havia nenhum novo critério para sustentar as vagas e grandes esperanças, a pesada tradição ainda vigorava. Tradição de quê? De nada, se se quisesse apurar. Tinha a seu favor apenas o fato de que os habitantes tinham uma longa linhagem atrás de si, o que, apesar de linhagem plebéia, bastava para lhes dar uma certa pose de dignidade.
Pensou assim, toda enovelada: “Ela que, sendo mulher, o que lhe parecia engraçado ser ou não ser, sabia que se fosse homem, naturalmente seria banqueiro, coisa normal que acontece entre os “dela”, isto é, de sua classe social, à qual o marido, porém, alcançara com muito trabalho e que o classificava de “self made man” enquanto ela não era uma “self made woman”. No fim do longo pensamento, pareceu-lhe que – que não pensara em nada.
Um homem sem uma perna, agarrando-se numa muleta, parou diante dela e disse:
- Moça, me dá um dinheiro para eu comer?
“Socorro!!!” gritou-se para si mesma ao ver a enorme ferida na perna do homem. “Socorre-me, Deus”, disse baixinho.
Estava exposta àquele homem. Estava completamente exposta. Se tivesse marcado com “seu” José na saída da Avenida Atlântica, o hotel que ficava o cabeleireiro não permitiria que “essa gente” se aproximasse. Mas na Avenida Copacabana tudo era possível: pessoas de toda a espécie. Pelo menos de espécie diferente da dela. “Da dela?” “Que espécie de ela era para ser ‘da dela’?” Ela – os outros. Mas, mas a morte não nos separa, pensou de repente e seu rosto tomou ar de uma máscara de beleza e não beleza de gente: sua cara por um momento se endureceu.
Pensamento do mendigo: “essa dona de cara pintada com estrelinhas douradas na testa, ou não me dá ou me dá muito pouco”. O correu-lhe então, um pouco cansado: “ou dá quase nada”.
Ela espantada: como praticamente não andava na rua – era de carro de porta à porta – chegou a pensar: ele vai me matar? Estava atarantada e perguntou:
- Quanto é que se costuma dar?
- O que a pessoa pode dar e quer dar - respondeu o mendigo espantadíssimo.
Ela, que não pagava o salão de beleza, o gerente deste mandava cada mês sua conta para a secretária do marido. “Marido”. Ela pensou: o marido o que faria com o mendigo? Sabia que: nada. Eles não fazem nada. E ela – ela era “eles” também. Tudo o que pode dar? Podia dar o banco do marido, poderia lhe dar seu apartamento, sua casa de campo, suas jóias...
Mas alguma coisa que era uma avareza de todo o mundo, perguntou:
- Quinhentos cruzeiros basta? É só o que eu tenho.
O mendigo olhou-a espantado.
- Está rindo de mim, moça?
- Eu?? Não estou não, eu tenho mesmo os quinhentos na bolsa...
Abriu-a, tirou-lhe a nota e estendeu-a humildemente ao homem, quase lhe pedindo desculpas.
O homem perplexo.
E depois rindo, mostrando as gengivas quase vazias:
- Olhe – disse ele -, ou a senhora é muito boa ou não está bem da cabeça... Mas, aceito, não vá dizer depois que roubei, ninguém vai me acreditar. Era melhor me dar trocado.
- Eu não tenho trocado, só tenho essa nota de quinhentos.
O homem pareceu assustar-se, disse qualquer coisa quase incompreensível por causa da má dicção de poucos dentes.
Enquanto isso a cabeça dele pensava: comida, comida, comida boa, dinheiro, dinheiro.
A cabeça dela era cheia de festas, festas, festas. Festejando o quê? Festejando a ferida alheia? Uma coisa os unia: ambos tinham uma vocação por dinheiro. O mendigo gastava tudo o que tinha, enquanto o marido de Carla, banqueiro, colecionava dinheiro. O ganha-pão era a Bolsa de Valores, e inflação, e lucro. O ganha-pão do mendigo era a redonda ferida aberta. E ainda por cima, devia ter medo de ficar curado, adivinhou ela, porque, se ficasse bom, não teria o que comer, isso Carla sabia: “quem não tem bom emprego depois de certa idade...” Se fosse moço, poderia ser pintor de paredes. Como não era, investia na ferida grande em carne viva e purulenta. Não, a vida não era bonita.
Ela se encostou na parede e resolveu deliberadamente pensar. Era diferente porque não tinha o hábito e ela não sabia que pensamento era visão e compreensão e que ninguém podia se intimar assim: pense!
Bem. Mas acontece que resolver era um obstáculo. Pôs-se então a olhar para dentro de si e realmente começaram a acontecer. Só que tinha os pensamentos mais tolos. Assim: esse mendigo sabe inglês? Esse mendigo já comeu caviar, bebendo champanhe? Eram pensamentos tolos porque claramente sabia que o mendigo não sabia inglês, nem experimentara caviar e champanhe. Mas não pôde se impedir de ver nascer em si mais um pensamento absurdo: ele já fez esportes de inverno na Suíça?
Desesperou-se então. Desesperou-se tanto que lhe veio o pensamento feito de duas palavras apenas “Justiça Social”.
Que morram todos os ricos! Seria a solução, pensou alegre. Mas – quem daria dinheiro aos pobres?
De repente – de repente tudo parou. Os ônibus pararam, os carros pararam, os relógios pararam, as pessoas na rua imobilizaram-se – só seu coração batia, e para quê?
Viu que não sabia gerir o mundo. Era uma incapaz, com cabelos negros e unhas compridas e vermelhas. Ela era isso: como uma fotografia colorida fora de foco. Fazia todos os dias a lista do que precisava ou queria fazer no dia seguinte – era desse modo que se ligara ao tempo vazio. Simplesmente ela não tinha o que fazer. Faziam tudo por ela. Até mesmo os dois filhos – pois bem, fora o marido que determinara que teriam dois...
“Tem-se que fazer força para vencer na vida”, dissera-lhe o avô morto. Seria ela, por acaso, “vencedora”? Se vencer fosse estar em plena tarde clara na rua, a cara lambuzada de maquilagem e lantejoulas douradas... Isso era vencer? Que paciência tinha que ter consigo mesma. Que paciência tinha que ter para salvar a sua própria vida. Salvar de quê? Do julgamento? Mas quem julgava? Sentiu a boca inteiramente seca e a garganta em fogo – exatamente como quando tinha que se submeter a exames escolares. E não havia água! Sabe o que é isso – não haver água?
Quis pensar em outra coisa e esquecer o difícil momento presente. Então lembrou-se de frases de um livro póstumo de Eça de Queirós que havia estudado no ginásio: “O lago de Tiberíade resplandeceu transparente, coberto de silêncio, mais azul que o céu, todo orlado de prados floridos, de densos vergeis, de rochas de pórfiro, e alvos terrenos por entre os palmares, sob o vôo das rolas.”
Sabia de cor porque, quando adolescente, era muito sensível a palavras e porque desejava para si mesma o destino de resplendor do lago de Tiberíade.
Teve uma vontade inesperadamente assassina: a de matar todos os mendigos do mundo! Somente para que ela, depois da matança, pudesse usufruir em paz seu extraordinário bem-estar.
Não. O mundo não sussurrava.
O mundo gri-ta-va!!! Pela boca desdentada desse homem.
A jovem senhora do banqueiro pensou que não ia suportar a falta de maciez que se lhe jogavam no rosto tão maquilado.
E A festa? Como diria na festa, quando dançasse, como diria ao parceiro que a teria entre os braços... O seguinte: olhe, o mendigo também tem sexo, disse que tinha onze filhos. Ele não vai a reuniões sociais, ele não sai nas colunas do Ibrahim, ou do Zózimo, ele tem fome de pão e não de bolos, ele na verdade só quer comer mingau pois não tem dentes para mastigar carne... “Carne?” Lembrou-se vagamente que a cozinheira dissera que o “filet mignon” subira de preço. Sim. Como poderia ela dançar? Só se fosse uma dança doida e macabra de mendigos.
Não, ela não era mulher de ter chiliques e fricotes e ir desmaiar ou se sentir mal. Como algumas de suas “coleguinhas” de sociedade. Sorriu um pouco ao pensar em termos de “coleguinhas”. Colegas em quê? Em se vestir bem? Em dar jantares para trinta, quarenta pessoas?
Ela mesma aproveitando o jardim no verão que se extinguia dera uma recepção para quantos convidados? Não, não queria pensar nisso, lembrou-se (por que sem o mesmo prazer?) das mesas espalhadas sobre a relva, a luz de vela... “luz de vela”? pensou, mas eu estou doida? Eu caí num esquema? Num esquema de gente rica?
“Antes de casar era de classe média, secretária do banqueiro com quem se casara agora e agora – agora luz de velas. Estou é brincando de viver, pensou, a vida não é isso.”
“A beleza pode ser de uma grande ameaça.” A extrema graça se confundiu com uma perplexidade e uma funda melancolia. “A beleza assusta”. “Se eu não fosse tão bonita teria tido outro destino”, pensou ajeitando as flores douradas sobre os negríssimos cabelos.
Ela uma vez vira uma amiga inteiramente de coração torcido e doído e doido de forte paixão. Então não quisera nunca experimentar. Sempre tivera medo das coisas belas demais ou horríveis demais: é que não sabia em si como responder-lhes e se responderia se fosse igualmente bela ou igualmente horrível.
Estava assustada quando vira o sorriso de Mona Lisa, ali, à sua mão no Louvre. Como se assustara com o homem da ferida ou com a ferida do homem.
Teve vontade de gritar para o mundo: “Eu não sou ruim! Sou um produto nem sei de quê, como saber dessa miséria de alma.”
Para mudar de sentimento – pois que ela não os agüentava e já tinha vontade de, por desespero, dar um pontapé violento na ferida do mendigo -, para mudar de sentimentos pensou: este é o meu segundo casamento, isto é, o marido anterior estava vivo.
Agora entendia por que se casara da primeira vez e estava em leilão: quem dá mais? Quem dá mais? Então está vendida. Sim, casara-se pela primeira vez com o homem que “dava mais”, ela o aceitara porque ele era rico e era um pouco acima dela em nível social. Vendera-se. E o segundo marido? Seu casamento estava findando, ele com duas amantes... e ela tudo suportando porque um rompimento seria escandaloso: seu nome era por demais citado nas colunas sociais. E voltaria ela a seu nome de solteira? Até habituar-se ao seu nome de solteira, ia demorar muito. Aliás, pensou rindo de si mesma, aliás, ela aceitava este segundo porque ele lhe dava grande prestígio. Vendera-se às colunas sociais? Sim. Descobria isso agora. Se houvesse para ela um terceiro casamento – pois era bonita e rica -, se houvesse, com quem se casaria? Começou a rir um pouco histericamente porque pensara: o terceiro marido era o mendigo.
De repente perguntou ao mendigo:
- O senhor fala inglês?
O homem nem sequer sabia o que ela lhe perguntara. Mas, obrigado a responder pois a mulher já o comprara-o com tanto dinheiro, saiu pela evasiva.
- Falo sim. Pois não estou falando agora mesmo com a senhora? Por quê? A senhora é surda? Então vou gritar: FALO.
Espantada pelos enormes gritos do homem, começou a suar frio. Tomava plena consciência de que até agora fingira que não havia os que passam fome, não falam nenhuma língua e que havia multidões anônimas mendigando para sobreviver. Ela soubera sim, mas desviara a cabeça e tampara os olhos. Todos, mas todos – sabem e fingem que não sabem. E mesmo que não fingissem iam ter um mal-estar. Como não teriam? Não, nem isso teriam.
Ela era... Afinal de contas quem era ela?
Sem comentários, sobretudo porque a pergunta não durou um átimo de segundo: pergunta e resposta não tinham sido pensamentos de cabeça, eram de corpo.
Eu sou o Diabo, pensou lembrando-se do que aprendera na infância. E o mendigo é Jesus. Mas – o que ele quer não é dinheiro, é amor, esse homem se perdeu na humanidade como eu também me perdi.
Quis forçar-se a entender o mundo e só conseguiu lembrar-se de fragmentos de frases ditas pelos amigos do marido: “essas usinas não serão suficientes”. Que usinas, santo Deus? as do Ministro Galhardo? teria ele usinas? A “energia elétrica... hidrelétrica”?
E a magia essencial de viver – onde estava agora? Em que canto do mundo? No homem sentado na esquina?
A mola do mundo é dinheiro? fez-se ela a pergunta. Mas quis fingir que não era. Sentiu-se tão, tão rica que teve um mal-estar.
Pensamento do mendigo: “Essa mulher é doida ou roubou o dinheiro porque milionária ela não pode ser”, milionária era para ele apenas uma palavra e mesmo se nessa mulher ele quisesse encarnar uma milionária não poderia porque: onde se viu milionária ficar parada de pé na rua, gente? Então pensou: ela é daquelas vagabundas que cobram caro de cada freguês e com certeza está cumprindo alguma promessa?
Depois.
Depois.
Silêncio.
Mas de repente aquele pensamento gritado:
- Como é que eu nunca descobri que sou também uma mendiga? Nunca pedi esmola mas mendigo o amor de meu marido que tem duas amantes, mendigo pelo amor de Deus que me achem bonita, alegre, aceitável, e minha roupa de alma está maltrapilha...
“Há coisas que nos igualam”, pensou procurando desesperadamente outro ponto de igualdade. Veio de repente a resposta: eram iguais porque haviam nascido e ambos morreriam. Eram, pois, irmãos.
Teve vontade de dizer: olhe, homem, eu também sou uma pobre coitada, a única diferença é que sou rica. Eu... pensou com ferocidade, eu estou perto de desmoralizar o dinheiro ameaçando o crédito do meu marido na praça. Estou prestes a, de um momento para o outro, me sentar no fio da calçada. Nascer foi a minha pior desgraça. Tendo já pagado esse maldito acontecimento, sinto-me com direito a tudo.
Tinha medo. Mas de repente deu o grande pulo de sua vida: corajosamente sentou-se no chão. “Vai ver que ela é comunista!” pensou meio a meio o mendigo. “E como comunista teria direito às suas jóias, seus apartamentos, sua riqueza e até os seus perfumes.”
Nunca mais seria a mesma pessoa. Não que jamais tivesse visto um mendigo. Mas – mesmo este era em hora errada, como levada de um empurrão e derramar por isso vinho tinto em branco vestido de renda. De repente sabia: esse mendigo era feito da mesma matéria que ela. Simplesmente isso. O “porquê” é que era diferente. No plano físico eles eram iguais. Quanto a ela, tinha uma cultura mediana, e ele não parecia saber de nada, nem quem era o Presidente do Brasil. Ela, porém, tinha uma capacidade aguda de compreender. Será que estivera até agora com a Inteligência embutida? Mas se ela já há pouco, que estivera em contato com uma ferida que pedia dinheiro para comer – passou a só pensar em dinheiro? Dinheiro esse que sempre fora óbvio para ela. E a ferida, ela nunca a vira tão de perto...
- A senhora está se sentindo mal?
- Não estou mal... mas não estou bem, não sei...
Pensou: o corpo é uma coisa que estando doente a gente carrega. O mendigo se carrega a si mesmo.
- Hoje no baile a senhora se recupera e tudo volta ao normal – disse José.
Realmente no baile ela reverdeceria seus elementos de atração e tudo voltaria ao normal.
Sentou-se no banco do carro refrigerado lançando antes de partir o último olhar àquele companheiro de hora e meia. Parecia-lhe difícil despedir-se dele, ele era agora o “eu” alterego, ele fazia parte para sempre de sua vida. Adeus. Estava sonhadora, distraída, de lábios entreabertos com se houvesse à beira deles uma palavra. Por um motivo que ela não saberia explicar – ele era verdadeiramente ela mesma. E assim, quando o motorista ligou o rádio, ouviu que o bacalhau produzia nove mil óvulos por ano. Não soube deduzir nada com essa frase, ela que estava precisando de um destino. Lembrou-se de que em adolescente procurara um destino e escolhera cantar. Como parte de sua educação, facilmente lhe arranjaram um bom professor. Mas cantava mal, ela mesma sabia e seu pai, amante das óperas, fingira não notar que ela cantava mal. Mas houve um momento em que ela começou a chorar. O professor perplexo perguntara-lhe o que tinha.
- É que eu tenho medo de, de, de, de, cantar bem...
Mas você canta muito mal, dissera-lhe o professor.
- Também tenho medo, tenho medo também de cantar muito, muito mais mal ainda. Maaaaal mal demais! Chorava ela e nunca teve mais nenhuma aula de canto. Essa história de procurar a arte para entender só lhe acontecera uma vez – depois mergulhara num esquecimento que só agora, aos trinta e cinco anos de idade, através da ferida, precisava ou cantar muito mal ou cantar muito bem – estava desnorteada. Há quanto tempo não ouvia a chamada música clássica porque esta poderia tirá-la do sono automático em que vivia. Eu – estou brincando de viver. No mês que vem ia a New York e descobriu que essa ida era como uma nova mentira, como uma perplexidade. Ter uma ferida na perna – é uma realidade. E tudo na sua vida, desde quando havia nascido, tudo na sua vida fora macio como pulo do gato.
(No carro andando)
De repente pensou: nem lembrei de perguntar o nome dele.
1977
In: Lispector, Clarice. A Bela e a Fera, Nova Fronteira, 1979, 131-46.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Um Samba de Rosa

Quero um samba batidinho
Assim compassadinho
Que tampe o vazio
Que você vai deixar

Um samba de paizinho
Bem cheio de carinho
Que lembre que a rosa
Nos faz querer amar

Um samba de batuque
Que lá dentro me mude
Que lembre o tempo bom
Que passamos sem ver

Também quero um pandeiro
Pra tocar bem ligeiro
E reduzir o tempo
Que fico sem você

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Há Uma Rosa Caída

Há Uma Rosa Caída

Há Uma Rosa Caída
Morta
Há Uma Rosa Caída
Bela
Há Uma Rosa Caída
Rosa

Maria Ângela Alvim

A Le pede pra que este poema seja lido pela Bela para a Fera na cena da biblioteca

oxente, gente!

Sobre A Bela e a Fera

em cada passinho por debaixo do biombo, em cada confete que espalha alegria pelo ar, serpentinas e sombras... o universo clássico do conto se transforma num agitado bloco carnavalesco que nos convida através de suas marchinhas, a viajar nessa história, mas agora, numa nova leitura...
não vejo a hora de entrar nesse bloco com todos vocês!

Sobre O Flautista...
oxente!
confesso que o sotaque nordestino tem tomado conta do meu vocabulário a cada ensaio haha
e participar desse processo com o Simão e a Juliana, tem sido um aprendizado imenso!
é demais ver aquilo que você criou com o seu suor (pensa num povo suado) ser colocado em prática...uma construção em conjunto, de verdade!
estou bastante contente também, por termos conseguido terminar o esqueleto do espetáculo, a primeira mudinha que em breve irá florescer!
Ramelin que se cuide, pois Joaquim, o mestre do Flautin, tá vindo aí pra acabar com seus problemas tudim!

Contos de fada com a nossa cara!

O Flautista de Hamelin

Cada dia a historia de Hamelin ganha mais cores e incrementados sabores. Com o carinho e a dedicação do Simão tenho certeza que mais mil ideias virão. Estar ao lado do Edgar e do Simão foi prazeroso e divertido, quero agradecer essas manhãs que passaram comigo. Vou dizer mais um “pouquin”! Vai ser difícil deixar de falar em rimas por um “tempin”!

A Bela e a Fera

Em meio ao jogo de contar e estar nessa linda história, a cada ritmo tudo se transforma. O compasso segue pétala por pétala, que caminho percorrerá o amor entre a Bela e a Fera?

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A bela Fera de Hamelin

A BELA E A FERA

Está sendo divertidíssimo compor esse samba-enredo-de-amor-canção cheio de músicas e risos. Tentando falar da beleza essencial e generosidade contidas num "monstro" jardineiro, parece que realmente nos tornamos uma trupe cambaleante, cheia de poesia e movimento.

O FLAUTISTA DE HAMELIN

Minúsculo e maiúsculo e muito músculo. Político. Brincante! Me lembrou aquela frase de Villa Lobos, que deve ser algo assim: "A música e as crianças podem mudar o mundo"...

A Bela e o Flautista ou Pequenas Impressões Theotôniais

A Bela e a Fera:

Um carnaval em desarmonia que juntando enredos desordenados consegue alegoriar a evolução. A Beleza encontra-se em tudo, até no mais feio dos feios.


Ramelín:

Som, bum, tom
Onde o fim só diz sim
Aonde Chega Ramelín

De forma nostálgica e serena
Eu sinto saudade
Da minha terra com gosto de maizena

Rio da verdade que contam as mentiras
Ramelin é o retrato do Brasil
E o seu som é a esperança disso tudo
Não terminar em um enorme vazio.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Solo em Grupo e Uma Rosa Bela

O Flautista está sendo pra mim um presente. Um presente “solo” que um “grupo” está me dando e construindo junto. Um “solo” que reascende em mim um pouco da minha cultura, nordestina, um “solo” quente, com suor, música, dança. Além das criaturas que me acompanham: Juliana com sua força e fé cênica, e Edgard com seu carisma e energia brincante. Tá sendo uma delícia com sabor de cuscuz adoçado com rapadura e leite de coco. Obrigado aos novos e aos velhos do Abração pelo presente desafiador e pela confiança depositada em mim. Viva mais um Solo em Grupo!

Já o processo de "A Bela e a Fera" me parece como uma rosa. No começo parecia um botão fechado, tímido, depois a rosa desabrochou e colocou toda a beleza pra fora, com sonoridades, imagens e sensações, tudo isso saindo do ranço clássico de uma história clássica. O grupo transmite uma sincronicidade coesa. Gosto muito dos temas musicais, das figuras corporais e algumas técnicas utilizadas na Cia. do Abração, como a abstração dos objetos, partituras corporais e vocais. É uma bela rosa desabrochando.